Artigo elaborado para a Revista Yacht, 2011
Algumas das pessoas que me procuram no Consultório, talvez a maioria, já chegam com o diagnóstico pronto de que precisam fazer regressão, pois acreditam que a regressão é capaz de resolver seus conflitos. Muitas delas chegam a afirmar que a causa está em experiências vividas antes do nascimento e que, ao fazer regressão, entenderão por que agem de tal maneira e sofrem por determinado motivo. É como se estivessem tentando justificar o problema, sem querer aceitar que a causa pode estar em seu estilo de vida atual, na forma como se relacionam com a existência, moldadas em paradigmas enrijecidos, que as deixa girando em torno de um ponto, reforçando o autoengano, acreditando em sua verdade cristalizada. Daí ser mais fácil não estarem abertas à possibilidade de mudança, uma vez que acreditam que sua forma de ser está sempre certa. Sendo assim, é mais fácil acreditar que as dificuldades em sua vida, seja nas relações sociais, afetivas, profissionais, financeiras, de saúde etc., estão relacionadas às vivências passadas e não à sua forma de ser. Sem dúvida alguma, somos o resultado do ontem (passado). Logo, ressignificar o atual modus vivendis é tomar consciência das influências do passado na vida presente, uma vez que somos a somatória de todas as experiências passadas, arquivadas no inconsciente. Sendo assim, tomar consciência da atuação da psicodinâmica das memórias passadas no dia-a-dia resulta em quebra de paradigmas e reavaliação de valores.
Considerações:
A) Se você acredita na pré-existência do espírito e que este encapsula-se periodicamente, tendo experiências humanas, a técnica funcionará perfeitamente. Daí se anuncia a Terapia de Vidas Passadas, o que atrairá apenas pessoas que acreditam nessa informação, como se a técnica fosse específica para trabalhar conteúdos de vivências passadas.
B) Se o indivíduo não acredita, ele deixa de se beneficiar. Portanto, não procura o Profissional, pois, como não acredita, tem o pensamento negativo de que “não vai dar certo”.
C) Se ele não acredita e nem desacredita, aí é que a técnica funciona maravilhosamente bem, pois não será regida pela crença, e sim, pela necessidade que é se curar e se ver livre do sofrimento, resolvendo definitivamente o conflito. Esse é o foco de quem não limita a técnica a nenhuma crença, seja ela a vidas passadas, crenças religiosas etc., mas sim, a uma técnica TERAPÊUTICA.
Fazer uma regressão de memória é diferente de fazer uma Terapia Regressiva. Veja bem:
Uma regressão, quando se consegue o estado alterado de consciência, acessa apenas a lembrança do fato. Mas o que acontece quando se aprofunda um pouco mais da carga emocional? O que fazer com o conteúdo que surge? Se não for trabalhado, nada resolve e pode até piorar, pois a pessoa passa a ter consciência da causa. E então, o que fazer com a descoberta? Aí é que entra o processo terapêutico, ou seja, a Terapia Regressiva.
A Terapia Regressiva acessa a causa intelectiva nos registros do inconsciente e trabalha terapeuticamente, buscando sua contraparte, a carga emocional negativa ancorada em alguma parte do corpo, na maioria das vezes no estômago, na cabeça etc. Depois deve-se dissolvê-la de forma catártica. Aí, sim, é o processo técnico, psicológico e científico de trabalhar com os conteúdos do inconsciente, resultando em uma ressignificação do conteúdo, estabelecendo um novo patamar para o conteúdo em pauta, atuando na psicodinâmica do inconsciente, de forma consciente, o que se chama de cura.
A maioria das pessoas conhece a Terapia Regressiva através dos livros do Psiquiatra americano Brian Weiss, que esteve em 1997 no Brasil, realizando um workshop no Rio de Janeiro, no qual estive presente. O que ele relata em seus livros transmite ao leigo e aos curiosos uma história fantasiosa de voltar no tempo e viver dramas e cenas hollywoodianas, como se fossem personagens principais de um filme, como rainhas, comandantes, reis etc., satisfazendo os sonhos e desejos de curiosos. E não é esse o principal objetivo. A Terapia Regressiva deve, sim, ter função de tomada de consciência, em que se desloca a origem do conflito que está no inconsciente para o consciente e aí, através de técnicas especiais, dissolve a carga emocional negativa que está associada à vivência na origem do conflito, promovendo a CURA, o que torna a técnica profundamente terapêutica.
O que é necessário entender é que, enquanto esse conhecimento estiver sendo transmitido de forma fantasiosa e folclórica, a técnica de regressão fica cada vez mais distante da ciência e mais próxima de crenças religiosas, não cumprindo sua função técnica e científica. Enquanto não for esclarecido o verdadeiro objetivo da Terapia Regressiva, estamos atraindo sempre aos nossos consultórios pessoas que acreditam de forma totalmente equivocada, até mesmo infantil. Certamente essas não são candidatas a vivenciar a técnica terapêutica. E é aí que entra o profissionalismo em saber reconhecer as crenças e as intenções das pessoas, pois o não reconhecer e fazer a regressão com esses candidatos podem ocasionar resultados desastrosos, fazendo com que a pessoa saia pior do que chegou, pois ela viverá fantasias, que reafirmarão ainda mais suas crenças, envolvendo o conflito em um manto de autoengano. Com isso, podem achar que seu script de vida está certo e, dessa forma, não se abrem para o novo, reforçando ainda mais os conflitos, doenças etc.
Pensamentos errados sobre a Terapia Regressiva no Consultório, que fazem a técnica falhar e decepcionar clientes quanto às suas expectativas:
1) Regredir é viajar no tempo e lá saber quem foi em vidas passadas e, ao saber disso, descobrir a causa de seus problemas, que tudo estará resolvido. MITO
– Regredir não é viajar no tempo. É recordar algumas memórias específicas que estão no inconsciente individual ou coletivo e trabalhá-las até o ponto de catarse. Logo, o mais importante não é ver como se estivesse assistindo a um filme na poltrona de um cinema, e sim, vivenciar, reviver, sentir a carga emocional provocadora do sofrimento, para, enfim, dissolvê-las. VERDADE
2) O profissional vai aplicar a técnica e o paciente ficará inconsciente, enquanto o profissional trabalha. Depois, ele lhe conta o que ocorreu. FOLCLORE
– Em momento algum a técnica deixará a pessoa inconsciente, pois, se assim fosse, o profissional nada poderia fazer, já que a interação é fator preponderante no processo. Logo, se é consciente, então não tem nada que o profissional saiba, que a pessoa também não saiba. VERDADE
3) Esperar que o profissional, como uma mágica, use a técnica de regressão ou hipnose mesmo sem a pessoa querer. MITO (Daí por que existe o medo de fazer Terapia Regressiva e falar o que não quer).
– A técnica só funciona se houver a interação cliente-profissional. Logo, você fala o que lhe vem à mente, com consciência, não tendo por que temer. VERDADE
Existem mil questões sobre essa forma errada de pensar a respeito da Terapia Regressiva, que coloca a técnica em um patamar abstrato, cheio de magia e muita fantasia, gerando medo e interpretações infantis e irracionais. Com isso, ao invés de ser benéfica, no entendimento dessas pessoas, a técnica torna-se um tratamento nocivo.
Associar a técnica a uma determinada religião. A Terapia Regressiva não está associada a nenhuma religião. Se assim fosse, ficaria associada às crenças do grupo religioso do qual o indivíduo faz parte. Se o pensamento do grupo for positivo, ele passa pelo processo e terá sucesso garantido, pois sua crença atua como coadjuvante no que ele acredita (“a fé remove montanhas”). Se a crença for negativa, com certeza ele nunca fará e estará divulgando o que acredita, afastando os incautos de também propagar a crença negativa. Mais uma vez, “a fé remove montanhas”.
Portanto, aqueles que desejam passar pela Terapia Regressiva devem separá-la de dogmas e doutrinas religiosas, para que, durante o processo, atuem as partes psicológica e científica.
É uma técnica que tem apresentado resultados fantásticos a todos os usuários que desvinculam o contexto terapêutico regressivo de qualquer conceito religioso ou preconceitos nocivos.
Milhares de pessoas foram e são beneficiadas pelo uso da técnica, curando-se de vários males. Sem sucesso pela medicina, algumas recorreram à técnica e obtiveram a cura. Certamente isso só foi possível em função de sua crença pessoal, sem fantasias. No entanto, esses milhares de pessoas são um nada diante do universo de pessoas na face da Terra, pois a maioria ainda acredita em histórias contadas para vender livros, em que são relatados apenas os resultados e não a metodologia e os passos clínicos e científicos para vencer os obstáculos, atingir as metas e as dificuldades que levaram àqueles resultados. E assim as pessoas se apegam apenas aos resultados, formatando em sua forma de pensar apenas a parte que lhes interessa, ou seja, de um milagre, em que o profissional atua como um mágico e curador religioso, uma vez que alguns livros mostram sempre que os resultados foram milagrosamente por acaso.
NOTA: enquanto não houver um esclarecimento em massa, a técnica da Terapia Regressiva, que poderia estar beneficiando milhões de pessoas, permanece sem condições de firmar-se nos meios científicos, apesar dos resultados clínicos fantásticos que proporciona.